© ReutersBarcos faz limpeza da Baía da Guanabara nesta quarta-feira
Os atletas que vão competir nos Jogos Olímpicos do próximo ano, no Rio de Janeiro, irão nadar e navegar em águas tão contaminadas com fezes humanas que correm o risco de ficarem doentes e incapazes de terminarem os jogos, de acordo com uma investigação da Associated Press. Foram analisadas a Marina da Glória na Baía de Guanabara, as praias de Copacabana e Ipanema, além da Lagoa Rodrigo de Freitas.
No estudo da qualidade da água da cidade foram encontrados níveis perigosamente elevados de vírus e bactérias de esgoto humano em locais Olímpicos e Paraolímpicos, resultados que alarmaram especialistas internacionais e competidores, alguns dos quais já ficaram doentes com febres, vômitos e diarreia.
"O que você tem aí é basicamente esgoto bruto", disse John Griffith, biólogo marinho da independent Southern California Coastal Water Research Project. Griffith examinou os protocolos, a metodologia e os resultados dos testes.
"Toda a água dos banheiros e dos chuveiros e tudo o que as pessoas colocam para baixo em suas pias, tudo misturado, vai para fora nas águas de praia. Esses tipos de coisas seriam fechados imediatamente se encontrados aqui", disse ele.
A AP encomendou quatro rodadas de testes em cada um desses três locais de água Olímpicos, e também na Praia de Ipanema, que é popular entre os turistas, mas não receberá eventos. Trinta e sete amostras foram verificadas para a análise de tipos de adenovírus humano, bem como rotavírus, enterovírus e coliformes fecais.
O teste viral continuará no ano que vem. A pesquisa não encontrou um local de água seguro para a natação ou provas de barco, de acordo com especialistas em recursos hídricos globais.
Ivan Bulaja, o treinador croata da equipe de vela da Áustria, disse que ele e seus atletas perderam dias de treinamento depois de adoecerem, apresentando quadros com vômitos e diarreia. "É de longe a pior qualidade da água que já vimos em nossas carreiras na vela", afirmou.
Oportunidade perdida?
Na candidatura olímpica, o governo do Rio prometeu que os jogos serviriam para regenerar vias navegáveis do Rio de Janeiro por meio de uma expansão de 4 bilhões de dólares do governo, em infra-estruturas de saneamento básico.
A partir de 1993, a Agência de Cooperação Internacional do Japão colocou centenas de milhões de dólares em um projeto de limpeza da Guanabara. O Banco Interamericano de Desenvolvimento emitiu 452 milhões de dólares em empréstimos para mais obras.
Até então, a agência japonesa avaliara o projeto como insatisfatório e declarou que não há melhorias significativas na qualidade da água da Baía.
Como parte de sua candidatura olímpica, o Brasil prometeu construir oito instalações de tratamento, para filtrar a maior parte do esgoto e evitar o escoamento de toneladas de lixo doméstico para dentro da Baía de Guanabara. Apenas uma foi construída.
Mesmo assim, o site do comitê organizador dos Jogos do Rio ainda afirma que um legado-chave dos jogos será a reabilitação e proteção do meio ambiente da região.